Uma das grandes vantagens para nós, do mundo gamer, é a diversidade que a nossa indústria fornece no quesito entretenimento. Além dos diversos consoles em que são distribuídos, desde o computador mais moderno até o celularzinho do Clash Royale, os jogos também nunca presenciaram tanta diversidade dentre as suas bibliotecas, consequência do constante crescimento da indústria e do alcance que ela possui após tanto desenvolvimento e tempo.
Simuladores de fazenda, shooters táticos, jogos de luta, de pescaria e até mesmo jogos de tabuleiro: hoje, podemos afirmar que existe um game que se encaixaria bem para cada uma das 8 bilhões de pessoas do nosso planeta, e isso diz bastante sobre a escala massiva que o mundo dos games atingiu nas suas décadas de vida. Nesse contexto, fica difícil falar em algo que cobre cada um desses jogos, um elemento em comum que, de certa forma, consiga gravar o grau de dificuldade do título de maneira concisa e aplicável a todos os jogos, por mais diferentes que sejam.
Essa discussão é bastante ampla, e não existe uma verdade absoluta para como se mede o quão alguém é bom em algum jogo, ou a dificuldade máxima que um título pode realmente ter. Uma maneira de tornar isso claro são as speedruns, um grupo de pessoas dentro da comunidade gamer que se preocupa apenas com terminar jogos da maneira mais rápida possível, "por todos os meios necessários".
Através de bugs, estratégias cuidadosamente planejadas e treino, os speedrunners muitas vezes desafiam a nossa própria percepção de jogos que achávamos conhecer tão bem. Eu, por exemplo, tive como meu primeiro console o Nintendo Wii, e passei grande parte dos meus tempos de infância no Super Mario Galaxy (2007). Com mais de 400 horas de jogo, eu costumava dizer que era bom, e passei anos me gabando para meus amigos como eu conhecia aquele mundo como a palma da minha mão. A minha percepção caiu por terra em 2019, quando o algoritmo do youtube me recomendou uma speedrun da GamesDoneQuick.
A tal da "skill expression"
De 2019 para cá, após mais alguns anos jogando e maturando algumas ideias sobre a indústria, a minha percepção de quão bom alguém pode ser em um game mudou completamente. Antigamente, eu afirmaria que 360Chrism, speedrunner do vídeo citado acima, é um jogador melhor de Mario Galaxy que a grande maioria da playerbase devido ao seu conhecimento sobre padrões de movimentação inimigo, bugs que aceleram a progressão normal do jogo e sua destreza com os controles. Apesar de ser uma opinião compartilhada por uma parcela considerável da comunidade, eu acredito que pessoas que progrediram o mesmo jogo no seu próprio tempo, ou as que zeraram diversas vezes o mesmo jogo procurando conteúdo adicional possuem tanto conhecimento quanto o speedrunner, e os aplicam de maneira conveniente para a sua própria experiência com o título.
Levando isso em conta, o termo Skill Expression (expressão de habilidade) foi criado, mais comumente utilizado na comunidade do League of Legends, o maior e-sport por boa parte da última década, referindo-se a capacidade de um jogador de extrair o máximo que um campeão (o player tem diversos campeões para escolher dentre o jogo, cada um com suas especificidades) pode oferecer. Aqui, diversos fatores contribuem para a Skill Expression do jogador: O quão difícil de operar é o campeão escolhido? O quanto ele conhece do jogo e o quanto ele consegue impactar positivamente suas partidas?
Contudo, muitos jogos tão populares quanto LoL não possuem esse foco na competitividade, abraçando abordagens mais casuais na maneira de viver o jogo. Voltando ao Mario Galaxy, por não ser um título puramente competitivo (como é a grande maioria dos e-sports), ser um bom jogador não necessariamente se traduz em zerar o jogo rápido como os speedrunners. O termo skill expression, apesar de poder ser aplicado para todos os jogos, não necessariamente é um indicador de qualidade de player.
Os e-sports e a competitividade
A conversa muda quando nos voltamos para os esportes eletrônicos. O termo skill expression em jogos desenhados para ter uma estrutura puramente competitiva ganha um novo significado. No Valorant, CS:GO, Starcraft e DotA, skill expression define como o jogo deve ser jogado, e possibilita a criação e consolidação de um cenário profissional formado a partir desses 0.1% de jogadores no topo.
Nesses jogos, falar que alguém é bom torna-se algo trivial, e nos baseamos em aspectos muito claros para cada estilo de jogo, apesar de todos esses podem ser resumidos por "mecanica". Nos shooters, uma mira afiada e movimentação são um bom indicador de que alguém tem um ranking alto, já nos Mobas, a compreensão do ritmo do jogo e as memorização de combos desempenham o mesmo papel. Esses jogos geralmente são lembrados como ''jogos com uma grande skill expression", e geralmente são a referência na comunidade como o berço dos maiores nomes da história dos jogadores de games.
Existe também um certo prestígio nos altos escalões do e-sport. Por serem jogos com comunidades grandes e ativas, os principais jogadores dos esportes eletrônicos populares tornam-se celebridades em diversos lugares do mundo. Lee 'Faker' Sang-hyeok, o garoto propaganda e consagrado melhor jogador de League of Legends história, tornou-se uma pessoa bastante conhecida pela ásia inteira, e é parado nas ruas onde passa por fãs com câmeras assim como jogadores de futebol fazem pelo Brasil.
O resto do mundo, não tão competitivo
Apesar do grande espaço que os e-sports ocupam na comunidade gamers, eles estão longe de resumir inteiramente todo o ecossistema do mundo dos jogos. Video Games, em sua grande maioria, não são desenhados inteiramente pelo aspecto competitivo e, por conta disso, a expressão de habilidade ainda é uma forma limitada de definir o envolvimento de um jogador com o seu jogo preferido.
A verdade é que, no fim das contas, todas as maneiras de medir a habilidade de jogadores se limitam ao estilo de jogo em questão. Mesmo que um jogo seja objetivamente mais difícil que outro, sempre existiram jogadores que levam ao limite os mais simples mecanismos presentes no título. Ao mesmo tempo, um rapaz que passou 3 anos jogando Stardew Valley e conhece todos os segredos do seu simulador de fazenda favorito também possui o seu mérito de bom jogador.
Conhecimento do jogo, familiaridade com os controles (ou teclado, caso no PC), disponibilidade de horas para jogar e ver conteúdos relacionados, todos são aspectos intercambiáveis dentre os diversos jogos existentes para determinar jogadores bons. No fim, não existe resposta certa: um bom jogador vem em diferentes formas.
E você, como um jogador, deve também se perguntar se você é bom no jogo X ou se dá bem com o gênero Y. No fim das contas, ganha quem se diverte jogando, seja afundado nas lan houses de São Paulo buscando troféus ou no ônibus atingindo o level 8 mil do candy crush. Em grande parte da minha vida meu parâmetro de habilidade em jogos foi ser melhor que os meus amigos que jogavam o mesmo game comigo, e apesar de não ser tão confiável, a ideia me divertiu durante toda a minha vida como gamer.
BEBIDA DE QUEM É PRO
Overclock: o melhor aliado para superar qualquer desafio.