Astralis. MIBR. EG. Liquid. São grandes times que a quase totalidade dos entusiastas de Counter Strike conhecem. Mas os pro players não chegam logo de cara em uma organização de grande porte: precisam partir de algum lugar. Esse limbo entre o amador e o profissional é predominado por times de menor porte e atletas com grande potencial – é o chamado CS semi profissional. Hoje entrevistamos André ‘tr1n’ Trindade, atualmente jogador da KG Network, passando em sua trajetória por times como a CoLD Clan e No Org.
Como você iniciou sua trajetória no CS e por que decidiu partir para o cenário semi profissional?
Minha paixão por jogos começou com 6 anos de idade, quando jogava jogos de estratégia. Foi só em 2011 que entrei no mundo do FPS, mas no console; 2 anos depois consegui montar o meu PC, e em 2016 finalmente conheci o CS. Era um pessoal de Rio Claro que estava fazendo um campeonato interno e me convidaram. Desde aquele dia nunca mais parei de jogar, quase não passei no vestibular de tanto jogar CS (risos). Em um ano peguei level 20 na GC, e logo fui chamado para jogar num time amador, de uns amigos meus, o que deu muito certo. Fui indo para outros times, e na Desafiante joguei 2 meses em um, 2 meses em outro… e segui assim, migrando de time em time até maio de 2018, quando me convidaram para o primeiro time que considero profissional, a Cold Clan. No ano seguinte entrei para a No Org, que considero o melhor time em que já joguei. Estávamos na Desafiante, mas por motivos pessoais tive que parar de jogar no competitivo e voltar a focar nos estudos. Mas o CS sempre fala mais alto, né? E no ano passado voltei para o cenário universitário e retornei para o competitivo. Fiquei alguns meses da Deserve It e agora estou na KG Network.
tr1n, terceiro da esquerda para a direita, conciliou os estudos na faculdade de História da USP com a busca em se tornar pro player
Você relata que passou por inúmeros times, ficando pouco tempo em cada um deles. Esse tipo de migração é comum no CS Semi Profissional?
É bastante comum, acredito porque existe uma falta de profissionalismo entre jogadores. Não há contratos ou vínculos, e a qualquer momento, se o jogador estiver infeliz com o time, ele pode sair. No cenário da Amadora e Desafiante existem players imaturos, acredito que pela idade, e não conseguem se manter no time e entender o que é necessário para o crescimento. O jogador precisa entender que é necessário permanecer em um time por pelo menos 4 meses, treinar, entender o porquê da derrota e o que precisa ser melhorado. Os times acabam rapidamente, antes mesmo de se consolidarem.
Outro fator que contribui para essa contínua migração de jogadores entre times é que ser um jogador da Desafiante, por exemplo, não é considerado profissão para muita gente. Os players não ganham um real. Eu ganhei alguns prêmios da GC, outros em campeonato, mas salário fixo mesmo é difícil de ter no nosso nível.
Quais são as mudanças que você observou no contexto do CS Semi Profissional de alguns anos para cá?
Antigamente tinha uma enorme disparidade entre o profissional e o amador. Hoje, um jogador da Desafiante já consegue desempenhar tão bem quanto o jogador da Pro, faltando alguns detalhes como noção de jogo. Em questão de granadas e mira, todos têm a mesma capacidade. Tudo isso porque o nível de competitividade é muito maior hoje, com cada vez mais pessoas jogando CS.
Existe possibilidade de um jogador, individualmente, chegar ao cenário Pro?
Sim. Hoje em dia tem a LPL, da FaceIt, é como o FPL do nível europeu. Basicamente na LPL os melhores jogadores profissionais do Brasil jogam em uma hub só para eles: são 150 jogadores que disputam entre si o tempo todo, não importa o time. E aí é totalmente possível sozinho chegar na LPL e chamar a atenção de grandes organizações. Basta ser um jogador individual muito bom, chegar no level 10 da FaceIt, passar pela Diamond, LPLC e finalmente LPL.
Mas também não é só isso. Se você tem bons contatos e for um bom jogador, ter a sorte de conhecer as pessoas certas, você também consegue subir. É por isso que reforço, ainda falta profissionalismo nesse cenário. Os times não são montados baseados em jogadores bons – mas aleatórios. Geralmente são grupos de amigos, é basicamente um grande mix (risos).
Quais são as suas perspectivas para o CS Semi Profissional nos próximos anos?
De 4 anos pra cá, do tempo que andei observando o cenário competitivo, vi uma mudança muito forte em questão de investimento. Antigamente tinha campeonatos por fora, mas não tinha investimento. Isso no cenário profissional, o que naturalmente afeta o cenário semi. Pensa, se nem o cenário profissional tinha investimento, imagina o cenário semi; imagina passar 5, 6 anos da sua vida treinando muito e não conseguir um salário que te sustente, como você sustenta uma família assim?
Aqui no Brasil o investimento é muito baixo, mesmo com a melhora. Ainda não é o suficiente. Os campeonatos não são grandes o suficiente para os jogadores se manterem. No semi, é pior ainda. Um campeonato que jogamos agora há pouco dava uma premiação de apenas 500 reais, para o primeiro lugar, dividido em 6 (com o coach). Você passa semanas jogando para vencer e levar 100 reais no final.
Premiação da Liga Gamers Club garante 710 dólares ao primeiro colocado; já a Ukrainian Esports Cup garante 3.600 dólares ao primeiro colocado, o que indica disparidade das premiações em países Europeus comparado ao Brasil
Em 2020 teve uma grande mudança. Até a Fast Shop deu uma premiação de 15 mil para o primeiro lugar, nós ficamos em 3o e levamos 1.500. Isso nunca teria acontecido nos anos passados. Com a pandemia, as empresas voltaram seus investimentos no cenário de esport. A Razer investiu bastante, o Banco do Brasil fez o CB CS com 800 mil reais em premiação. Vi uma mudança drástica no cenário profissional, e isso acaba puxando o semi pra cima também.
Eu como jogador estou muito feliz com os investimentos atuais, e acho que no futuro, isso tende a crescer muito. Essa pandemia meio que dobrou o número de jogadores de CS. De 12 milhões de jogadores ativos no mês, foi para 24 milhões. Quanto mais jogadores, mais espectadores, e mais investidores no CS.