Hoje em dia, não é nenhum absurdo dizer que o CS:GO é o eSport mais consolidado no Brasil. Com milhões de visualizações, uma prateleira cheia de títulos e uma comunidade apaixonada, o CS faz parte do DNA brasileiro e a recente apresentação da Imperial no último Major só nos mostrou mais uma vez a garra com que a nossa nação joga nos estágios internacionais.
Para quem acompanha a história mais recente do mundo dos games, a existência de um projeto como o da Imperial traz uma sensação nostálgica, tanto pelo peso do nome dos jogadores quanto pela importância deles na trajetória da nossa bandeira pelos principais campeonatos na Europa e América do Norte. Contudo, muitos players e espectadores novos não acompanharam o surgimento desses nomes na cena (ou ressurgimento, em alguns casos) desde o começo.
Ainda bem que estamos aqui para descrevê-la, pois nem os melhores roteiristas iriam conseguir uma história tão emocionante quanto a que estamos prestes a contar.
OS VELHOS TEMPOS
Apesar de estarmos falando de um time de CS:GO, a nossa história começa na versão anterior do jogo, o CS 1.6. O foco desse texto não será esse, mas recomendamos procurar um pouco da história do Brasil na versão anterior: foi aí que surgiram figuras da comunidade respeitadas até hoje, como é o caso do Gaules, Ferrer, Apoka, dentre outros. Foi nos servers do 1.6 que alguns nomes do Last Dance surgiram e se consolidaram, como por exemplo o Lincoln ‘fnx’ Lau, que com seus 14 anos disputou o primeiro campeonato na ESWC de 2004. A partir de então, FNX seguiu uma carreira vitoriosa, defendendo a camisa de grandes organizações e conquistando títulos mundiais.
Em 2009, durante a curta estadia de Lincoln na Firegamers, os servers de CS viram, pela primeira vez, a dupla “Fallen” e “fnx” trabalhando juntos. Gabriel “Fallen” Toledo, cujo nome dispensa apresentações, começou sua carreira profissional no CS um pouco depois do seu teammate, tendo defendido a bandeira da Crashers até 2009, antes de se juntar à Firegamers. Os dois mantiveram um companheirismo vitorioso, ganhando diversos minors e tendo sucesso em campeonatos no exterior entre 2009 e 2013.
Foi no ano de 2013, atuando pela playArt, que Fernando “fer” Alvarenga, a nossa “Dona Morte”, jogou pela primeira vez no mesmo time que seus teammates atuais. Em entrevistas promocionais para o Major de Atlanta em 2017, Fer contou que não gostava da “panelinha de elite” da qual FalleN e FNX faziam parte, e que inicialmente havia recusado a proposta para participar da line up da playArt. Vindo de uma família mais humilde, a trajetória de ‘fer’ no CS foi ainda mais tardia, começando apenas quando o jovem universitário contava com ajuda do seu irmão para a compra de equipamentos e periféricos de computador. Foi assim que o mundo presenciou o trio em ação, motivando diversos jovens brasileiros a seguir carreira ou se dedicar ainda mais ao CS:GO.
Vale lembrar também que, apesar de não terem se profissionalizado durante esse momento do CS, o 1.6 foi importantíssimo na história dos outros 2 jogadores da Imperial: VINI e boltz.
Em uma entrevista para a SporTV, Vini conta que o seu pai, fanático por videogames, introduziou o CS a ele quando tinha apenas 5 anos, e relembra na entrevista as diversas madrugadas que passou ao lado do seu pai em servers da comunidade tanto do 1.6 quanto do CS:Source. Os 2 players apenas iniciaram seu trajeto profissional no CS:GO, porém não há dúvida de que os seus atuais teammates já passaram pela tela de Vini e Boltz, tanto em jogos casuais nos servidores quanto nas madrugadas de stream, onde os 3 jogadores profissionais representavam nossa bandeira em palcos internacionais.
O CS:GO E A JORNADA ATÉ ASPEN
Em 2013, com a iminente morte do cenário de 1.6 no Brasil e no mundo, uma transição para o novo título da Valve, o CS:GO, já era realidade para os jogadores do 1.6 e Source. Foi perceptível que, nas diversas entrevistas com profissionais e pessoas da comunidade, a transição foi um período difícil: a comunidade estava dividida entre os três títulos (CS:GO, CS 1.6 e Source), grandes nomes estavam se aposentando e havia uma escassez de investimentos nos eSports.
Foi apenas em 2014, com o convite da ESWC, que o Brasil foi representado em palcos internacionais por Fer, FalleN, fnx e os gêmeos “HEN1” e “LUCAS1” sob a bandeira da Kabum. Apesar de pouco sucesso no palco em Paris, as portas da comunidade internacional de CS:GO pareciam abertas para a inserção de um outro elenco brasileiro: o time ProGaming.TD, sendo a primeira oportunidade internacional para um dos membros da line up atual da Imperial, Ricardo “boltz” Prass. Assim, FalleN, Boltz e Fer foram convidados para participar do MLG X Games Invitational na cidade de Aspen, Colorado.
Apesar de nenhum pódio ou colocação expressiva, muitas pessoas da comunidade lembram desse campeonato com um certo carinho, especialmente a vitória sobre o time americano Cloud 9, em um impressionante placar de 16 a 4 no mapa Mirage. Até hoje considerado um grande evento do CS Internacional, os espectadores brasileiros percebiam que algo muito grande estava prestes a surgir: nossos players estavam de volta ao lugar que eles deveriam pertenciam.
A comunidade internacional pareceu ainda mais envolvida quando, em 5 dias, os próprios players arrecadaram mais de 5 mil euros para pagar as suas passagens para o qualify do Major através de doações nas suas lives, incluindo a ajuda de um dos grandes nomes do cenário de CS:GO, o jogador ‘Flusha’ da Fnatic e uma empresa que sediava eventos de CS:GO, a ESEA.
O RENASCIMENTO E OS TEMPOS ÁUREOS - AINDA POR VIR
Sob o nome da Keyd Stars, depois de um Major com colocação bem acima das expectativas – em oitavo lugar – , o contexto mudou completamente com a compra do time pela Luminosity Gaming, uma organização americana que proporcionou à line brasileira uma vida nos Estados Unidos, disputando com os melhores do mundo. O Brasil finalmente pôde observar seu nome de volta no topo.
Com mais uma classificação para os playoffs do Major da ESL em Colônia, na Alemanha, a presença brasileira no nível mais alto do CS parecia apenas começar. A partir daqui, todo mundo conhece a história: diversas mudanças de line, a chegada de novos times aos servidores do NA, os 2 Majors consecutivos, a presença da antiga line da Games Academy numa final de Major sob o nome da Immortals e toda a glória que a bandeira verde-amarela viveu nos tempos de 2016 até 2018.
É nesse contexto, de um cenário já pavimentado pelas ações de FalleN e muitos outros que construíram o pilar da cultura de CS:GO, que a Imperial surgiu. Um projeto com o objetivo de mostrar de novo a garra que o Brasil teve durante todos os anos, encabeçado pelos mesmos nomes que criaram essa paixão tão intensa que o brasileiro tem pelo CS.
Com o resultado do Major na Bélgica, já foi provado que os veteranos do cenário ainda tem muita performance a mostrar. Somando as experiências da velha guarda com um jovem jogador, Vini, o futuro do Last Dance promete ainda emocionar muito os brasileiros nos campeonatos que estão por vir.
Afinal, você realmente acha que Fer, FalleN e fnx não nos convidariam para uma última dança antes de dizer adeus?