Novos rumos no tratamento do TDAH: qual o papel do BDNF e como os suplementos podem melhorar os sintomas do transtorno?

Por José Henrique Bomfim, Ph.D.*

A cada dia são feitas centenas de novas descobertas no campo científico, trazendo sempre uma nova luz ao nosso conhecimento e, muitas vezes, nos frustrando de ideias antiquadas ou mesmo nos surpreendendo, pois muitas dessas ideias eram tidas como verdade absoluta até então.

No caso do Transtorno e Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), há um universo a ser compreendido. Tudo é bem recente e as pesquisas buscam nos trazer informações para que possamos melhorar a qualidade de vida das pessoas com o transtorno.

Vimos em nosso blog (saiba mais), o importante papel dos bons hábitos de vida, principalmente em relação ao sono, dieta e prática de atividades físicas. Além disso, pudemos entender um pouco mais sobre como os suplementos alimentares podem auxiliar na redução dos sintomas doo TDAH.

E é exatamente aí que podemos nos aprofundar mais. Uma das principais substâncias relacionadas à saúde cerebral e envolvida na manutenção dos neurônios, principalmente em pessoas com transtornos psiquiátricos ou neurológicos (depressão, ansiedade, bulimia, transtorno obsesivo compulsivo, demência, Alzheimer), se chama Fator Neurotrófico Deriva Cerebral, ou BDNF do inglês (Brain derived neurorotrophic factor).

Só para adiantar, vamos passar pelos seguintes tópicos:

• O QUE É BDNF? E QUAL A RELAÇÃO COM TDAH?

• MAS O QUE BDNF TEM A VER COM TDAH?

• FATORES QUE MELHORAM A PRODUÇÃO DE BDNF E REDUZEM SINTOMAS DE TDAH

• CONCLUSÃO

O QUE É BDNF? E QUAL A RELAÇÃO COM TDAH?

O BDNF é uma proteína relacionada à saúde de nossos neurônios e pertence a uma classe de proteínas chamada de neurotrofinas. Estas proteínas são a base de nossa memória pois mantém os neurônios saudáveis, permitindo a neurotransmissão, o que leva ao melhor funcionamento cerebral e também de todo o organismo.

As pesquisas atuais mostram que diversos fatores podem ter relação com a redução na produção desta proteína e, consequentemente, o desenvolvimento de transtornos de comportamento ou memória.

Vejamos… Todas as proteínas de nosso corpo são produzidas a partir da ingestão de alimentos ricos em proteínas e aminoácidos, que são os formadores das proteínas. Portanto, o primeiro ponto está ligado a uma dieta adequada em proteínas. Mas a síntese destas proteínas também depende de algumas vitaminas e minerais que acabam participando de suas vias de produção.

Ao envelhecermos também reduzimos nossa capacidade de produção de substâncias e isso piora com a idade mais avançada. Os dados de pesquisas sobre BDNF e idosos demonstram que estes são beneficiados com a prática regular de atividade física (sim, nos movimentarmos é fundamental) e com o aumento da quantidade de proteínas na dieta.

O que sabemos até o presente momento é que, além da idade, fatores como o sedentarismo, alimentos ultraprocessados, alguns químicos e anticorpos relacionados a algumas doenças, são os responsáveis pela redução na produção do BDNF.

MAS O QUE O BDNF TEM A VER COM TDAH?

Uma redução dos níveis BDNF foi encontrada em muitas doenças neuropsicológicas, incluindo o TDAH. Este dado é extremamente importante, pois os sintomas relacionados ao TDAH tem ligação direta na produção de neurotransmissores (acetilcolina e dopamina) e síntese do BDNF (BDNF também é essencial para o desenvolvimento do sistema dopaminérgico, responsável direto pelo foco e atenção, aprendizado e regulação das emoções). 

O mais interessante é que os medicamentos utilizados para o TDAH não conseguem restabelecer as concentrações de BDNF, sendo estes somente direcionados à aumentar a concentração nos portadores do transtorno, sem promover melhora direta na neuroproteção.

Daí a importância de saber por quais vias devemos buscar a manutenção da saúde cerebral, principalmente pela produção de BDNF.

FATORES QUE MELHORAM A PRODUÇÃO DE BDNF E REDUZEM SINTOMAS DE TDAH

Diversos autores trazem a importância da atividade física para a melhora nos sintomas do TDAH e outras tantas condições. O exercício físico tem a capacidade de modular genes em nosso corpo e garante o que chamamos de neuroplasticidade, ou seja, a produção e saúde de neurônios. Esta produção tem ligação com o BDNF.

Além disso, vitaminas do complexo B, principalmente a vitamina B3 (niacina) e vitamina D têm sido relacionadas diretamente à produção de BDNF.

Outro ponto importante estaria ligado à redução de BDNF por efeito dos radicais livres e estresse oxidativo. Conforme mostramos em nosso blog no texto sobre polifenóis (saiba mais), o consumo ou a suplementação de compostos antioxidantes (vitaminas A, C, E e K, vitaminas do complexo B, compostos bioativos como os polifenóis, coenzima Q10, minerais como manganês, magnésio, selênio e zinco) tem o poder de reparar os danos causados pelos radicais livres e prevenir o surgimentos de doenças, inclusive com benefícios reais no caso do TDAH e produção de BDNF.

A regulação de genes que produzem o BDNF também é um fator importante e que pode ser melhorada pela suplementação de compostos antioxidantes e também pela colina, que regula genes específicos de produção de BDNF (aumenta sua produção) e pelo inositol, que está presente na membrana e no interior das células e promove atividade dos receptores que captam aminoácidos para a síntese de proteínas.

A cafeína também é um composto que atua aumentando as concentrações de BDNF. Sabemos que pessoas que consomem quantidades seguras de cafeína durante a vida tem menor chance de desenvolver doenças neurológicas, isso devido a neuroproteção causada por ela através do aumento do BDNF.

O aminoácido taurina tem papel importante na regulação de genes específicos da produção de BDNF. Dados atuais mostram que doses de até 6g por dia são seguras e permitem uma melhor neuroproteção.

Conclusão

O que podemos concluir é que os bons hábitos de saúde, alimentação adequada, maior consumo de proteínas e ingestão de nutrientes essenciais e a suplementação de antioxidantes e vitaminas específicas, além de alguns compostos como cafeína e colina, pode resultar em uma melhora considerável nos sintomas do TDAH, via regulação do BDNF.

Em sua nova versão, o Overclock 2.0 traz compostos que participam diretamente da síntese ou da manutenção das quantidades de BDNF e pode ser um aliado para redução dos sintomas do TDAH, como colina, cafeína, polifenois, vitaminas A, B, C, D e E, taurina, tirosina, inositol e coenzima Q10.

Referências Bibliográficas:

CALETTI G et al. Antidepressant dose of taurine increases mRNA expression of GABAA receptor α2 subunit and BDNF in the hippocampus of diabetic rats. Behav Brain Res. 2015 Apr 15;283:11-5;

JOHANSSON J et al. Choline up-regulates BDNF and down-regulates TrkB neurotrophin receptor in rat cortical cell culture. Neuroreport. 2009 Jun 17;20(9):828-32.

LIU D et al. The Physiology of BDNF and Its Relationship with ADHD. Mol Neurobiol. 2015 Dec;52(3):1467-1476.

PEREGRIN C et al. Caffeine‐mediated BDNF release regulates long‐term synaptic plasticity through activation of IRS2 signaling. Addict Biol. 2017 Nov; 22(6): 1706–1718.

*José Henrique Bomfim é Farmacêutico Bioquímico, mestre em toxicologia, doutor em farmacologia clínica e consultor científico da Overclock