Racismo no esporte: o caso Vinícius Jr e o impacto na sociedade

Racismo no esporte: o caso Vinícius Jr e o impacto na sociedade

Por José Henrique Bomfim, Ph.D.*


No dia 21 de maio de 2023, em uma partida entre o Clube de futebol Real Madrid e o Clube de futebol Valencia, pelo "La liga", mais uma vez, novamente, de maneira absurdamente triste, o jogador e atacante brasileiro Vinícius Júnior fora chamado de "macaco". Vinícius denunciou as agressões ao juiz, mas acabou sendo punido com a expulsão, após uma confusão com os jogadores adversários que se incomodaram com a atitude não passiva do brasileiro.

Sim… Ele foi expulso por reclamar. Só este fato isoladamente já demonstra o racismo, não só dos torcedores agressores, mas da cultura em si.

Percebam que os demais jogadores ficaram incomodados com a atitude explosiva do atacante, que simplesmente sofre este tipo de agressão há tempos. Percebam também que falamos que as agressões são de longa data… Mas e a FIFA? E o clube Real Madrid? E o Valencia? E a população? E os torcedores envolvidos? E os não diretamente envolvidos? E nós?

É impressionante ver que uma atitude deste nível parece nunca acabar, em qualquer esfera da sociedade. No futebol profissional então… Está longe de encerrar.

Por que, estando em 2023, você ainda escutará muito sobre este tema? Porque essa questão, infelizmente, é cultural.

O racismo pode ser definido pelo "preconceito e discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre pessoas e povos. Muitas vezes toma a forma de ações sociais, práticas ou crenças, ou sistemas políticos que consideram que diferentes raças devem ser classificadas como inerentemente superiores ou inferiores com base em características, habilidades ou qualidades comuns herdadas. Também pode afirmar que os membros de diferentes raças devem ser tratados de forma distinta".

Este conceito de diferenciação é também uma condição de normalidade para nossa espécie. Sim, em toda a história da humanidade teremos questões de tratamento distinto entre  pessoas de condições sociais diferentes, cor da pele, crença e orientação sexual. Parece que para alguns seres humanos é inaceitável ser diferente e isso gera o  comportamento racista.

Infelizmente, devemos entender que este tipo de comportamento não deve acabar tão cedo. É um conceito que é transmitido e ensinado. Não nascemos com nenhum tipo de preconceito e somos fruto de nosso ambiente.

O que podemos perceber atualmente é que, ao menos, existe uma indignação no geral, sendo a maioria das respostas ao jogador de maneira solidária.

Mas os episódios do passado no futebol e em todas outras modalidades esportivas, talvez exijam mais das instituições. O que realmente poderá fazer a diferença é a educação, dos níveis mais fundamentais e se elevando até a vida adulta. Educar promovendo a integração é provavelmente a arma mais poderosa que temos contra qualquer tipo de prejulgamento.

Para que você possa entender bem a dimensão do que estamos falando e de como a educação pode remover estas atitudes, sugerimos que leia ou veja sobre um experimento educacional feito nos EUA nos anos 1960, logo após o assassinato do líder Martin Luther King Jr em 1968, pela educadora Jane Elliott.

Jane era professora do ensino fundamental em uma escola popularmente de pessoas brancas. Logo após o assassinato, Jane propõe uma série de ações para que as crianças pudessem perceber o quão devastador era se sentir excluído por uma característica física diferente. Neste experimento ela divide a turma entre olhos castanhos e olhos azuis (independentemente da cor real dos olhos das crianças). 

A partir da divisão, ela incentiva as ações contra o grupo dos olhos castanhos, somente por terem olhos castanhos (de forma ficcional). O efeito é tão grande que as crianças, mesmo não tendo os olhos castanhos, acabam absorvendo os maus tratos e sentem o peso dessas atitudes (você pode ver o experimento original neste vídeo do Youtube)

Em outro momento ela mudou o foco e fez os olhos  azuis serem tratados de forma excludente.

Na verdade, ela simplesmente usou o comportamento comum contra negros nos EUA e colocou, metaforicamente, nas crianças de olhos marrons. Questões cívicas e sociais foram exploradas. Sugerimos fortemente que possa assistir ao vídeo ou ler sobre o tema.

De maneira previsível, muitos pais não aceitaram o exercício e tiraram os filhos da escola… Assim como os jogadores se revoltaram contra Vini Jr.

Isto demonstra que ainda há muito a ser trilhado no que se refere à educar contra o racismo e há um grande caminho a ser seguido.

A Overclock é solidária ao jogador e abraça a causa da igualdade sempre, condenando qualquer tipo de prejulgamento.

Estamos juntos, Vini!


*José Henrique Bomfim é Farmacêutico Bioquímico, mestre em toxicologia, doutor em farmacologia clínica e consultor científico da Overclock

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